terça-feira, 29 de junho de 2010

A (re)invenção de Maria Rita


São duas e trinta e sete da manhã e eu to aqui me perguntando o que acabou de acontecer.

Ok. Vou começar do começo.

Era uma vez uma fã da Maria Rita que estava há mais de um mês sem vê-la no palco. Um dia essa fã ficou sabendo que Maria Rita faria um show ‘novo’ no Tom Jazz, uma casa que a fã adora e onde MR nunca tinha feito um showzinho se quer. O ingresso era meio salgado, mas a fã resolveu comprar mesmo assim por que ela sabia que se não comprasse iria se arrepender pelo resto da vida. Dito e feito.

Ela comprou, combinou de ir com outras amigas e o tal dia 28 de junho chegou. Lá foram elas. Melhor: lá fomos nós.

A ansiedade já corroia os pensamentos há dias e, quando chegamos lá, a única certeza era de que seria absolutamente mágico. A atmosfera do Tom Jazz contribuía para isso. Nosso estado de espírito conspirava para isso. O novo show era isso.

Como bem disse a Gabi Ferrony, o show bem que poderia ser batizado de “The new adventures of old Maria Rita”, as novas aventuras da velha Maria Rita. Uma volta às origens com o diferencial da incrível bagagem de sete anos de experiência nas costas. E o show reflete exatamente esse sentimento: a (re)invenção de algo que já existia.

Músicas novas como Conceição dos Coqueiros e Perfeitamente, que MR nunca tinha cantado em show nenhum, são peças-chave da nova montagem. Ambas tem uma energia muito única, uma vibração diferente do que estamos acostumados. Posso estar sendo absolutamente prepotente e arrogante na minha constatação, mas acho que os fãs da MR estavam querendo (e precisando) ver aquela Maria Rita que talvez estivesse escondida embaixo de paetês e pandeiros há tanto tempo.

As músicas da turnê Samba Meu ganharam outros arranjos, mas sem perderem a pegada original. Foi muito gratificante poder ver mudanças naquilo que pra mim já era tão óbvio. E a culpa, acredito eu, é do tão famoso e saudoso trio de piano-baixo-bateria com Tiago, Sylvinho e Cuca. MR também está diferente: mais solta, improvisando mais, saindo mais do lugar-comum que essas músicas tinham se tornado por causa da duração da turnê.

Outras músicas como Santana, Soledad, Só de Você e A História de Lilly Brown, que já tinham sido gravadas/cantadas em algum outro momento, ficaram ainda mais fortes nessa etapa nova e também são peças-chave dela. Cheguei ao ponto de não conseguir nem aplaudir ao final algumas músicas, tamanha a minha perplexidade. Fiquei estática, olhando e tentando digerir aquela carga emocional tão grande. Aliás, não fui só eu. Os rostos das pessoas completamente embasbacadas e incrédulas com a grandiosidade de um show em um lugar tão pequeno confirmam a minha tese. Sempre que se referem ao Tom Jazz, dizem que é uma casa intimista. Concordo. O show, por sua vez, passa disso. É íntimo, daqueles que reviram os sentimentos mais internos, mais escondidos. Pelo menos comigo foi assim. MR tá com uma força inexplicável. Mais poderosa, intensa e grandiosa do que nunca.

Ter tido a oportunidade de ver esse show no Tom Jazz é um privilégio dos grandes. Não tem relato ou gravação nesse mundo que consigam passar o que aconteceu ali, a meio metro dos meus olhos.

Só posso agradecer à Maria Rita por essa capacidade tão absurda que ela tem de pausar a vida lá fora enquanto canta, de nos fazer acreditar que só o que é feito com paixão e viceralidade vale a pena. Menos que isso não dá, fica capenga. E Maria Rita - com o perdão do clichê – é uma das criaturas mais inteiras e intensas que eu já tive a honra e o prazer de conhecer.



*Texto: Ju Periscinotto

*Foto: Amanda Souza


3 comentários:

ღ Alê ღ disse...

Com a permissão que me foi concedida, rsrs, estou completamente com medo de ir a esse show, Maria Rita pra mim é como um ente familiar, sinto falta, saudade, raiva as vezes só as vezes rs, e confesso qd ouvir dizer desse show aqui tão perto, tão próximo ,confesso que tremi, tremo a cada instante que se passa, obrigada JU por compartilhar sua experiência, foi única acredito, e a sensação transmitida aqui foi excepcional, bjo fã de nossa Maria.

Gabi Ferrony disse...

Este texto, Ju, deveria vir com a advertência: proibido para xiitas em recuperação. Através das tuas palavras ( muitíssimo bem colocadas diga-se de passagem) quem já 'xiitou' um dia e viveu - nem que por instantes - a presença da Maria Rita no palco da forma que vivemos nós, seus fãs, reviverá um pouco destes momentos através do teu relato apaixonado, mas nem por isso impreciso.

"The new adventures of old Maria Rita" inclui, além das novas interpretações da nossa 'velha' e querida cantora ... a velha e (ah, já estava com saudade!rs) forma de nos doarmos aos shows, de entrarmos naquela sintonia deliciosa cantora-música-fã. E isso deu prá ver, direitinho, no teu texto Ju !

Parabéns, viu? Obrigada e, ah, um leve VTNMDSC por ter feito eu me arrepender de ñ ter ido ... [caradecu]

Lorena Cardoso. disse...

Ju, que texto!
Me transportei e arreipei. Que vontade de ver isso... sem mais!